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Prosa pra bruxa

  • João Paulo Guma
  • 11 de ago. de 2014
  • 2 min de leitura

Quando vi Ariana, senti o tesão mais inédito da minha vida. Ela tinha uns 17, 18 anos. Forçava ou realmente tinha uma aparência de bruxinha. Era um tesão que ia além do físico, do querer ou do gostar: ele era maior pelo fato de que eu tinha um pouco de medo dela.


Ariana talvez tenha sido a mulher que mais desejei ou mais desejei amar. Amiga de uma paixão, era minha paixão secundária, não por falta de intensidade do meu querer, mas pela mais completa inacessibilidade, por ela ser a branquela mais gata do Colégio de Aplicação e eu, apesar de já estar na faculdade de filosofia, ser escrotamente tímido, além de ficante de sua amiga, como eu já dissertara.


Tara. Era a tara mais estranha do mundo. Eu era, porém, louco por Gabi, sua amiga, uma loira com o olhar de psicopata mais ofuscante que eu já conheci, com o beijo mais compacto e assassino que eu já experimentei, que matava uma pessoa que eu gostava a cada ficada. E não estou brincando.


E ainda tinha Taíssa, sua outra amiga, uma das mais vertiginosas cinturas da cidade. Que tinha um jeito tão falsamente doce que me deixava em constante confusão emotivo-sexual, numa luta interminável entre meu eros, meu philos, e meu ágape.


Lembro do dia perdi Gabi, mas salvei Ariana e Taíssa de um caminhoneiro que queria pagar para transar com as duas. Talvez tenha me achado tão feio que eu só poderia ser o cafetão delas. Não que elas apresentassem qualquer comportamento mais assanhado. Sempre foram tranquilas em suas loucuras particulares.


Após falar o que estava acontecendo para as elas, vi Taíssa chorar e o rosto de Ariana incrédulo e triste. Quis me casar com Ariana nesse dia. Quis ter todos os filhos do mundo e atirar na cabeça do pau de todos os caras que a tratassem de forma parecida. Quis ser bruxo, o seu feiticeiro impávido, portador da magia mais sublime existente: o seu querer.


Mas não foi bem assim…


Depois desse dia acabamos por nos afastar paulatinamente. Não por algum problema, mas por eu não encontrar uma solução para o que eu sentia.

Amor, paixão, sei lá, nada disso é um problema. Mesmo quando não se é correspondido. Como eu já disse em relação a outras, ela era linda, mas eu era divino enquanto alguém que a amava, pois era eu que estava possuído por um deus.


Um deus, porém, que ela controlava através de suas bruxarias.

 
 
 

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